Noite na taverna (1855) é uma das mais criativas obras escritas durante o Romantismo brasileiro. Abdicando da cor local (uma dos aspectos marcantes do movimento), Álvares de Azevedo cria uma trama europeia em português: os personagens, portanto, são estrangeiros em solo estrangeiro. Noite na taverna representa, ainda, um dos pilares do menu romântico, que em alguns autores chega ao nível da obsessão: construir uma obra que fundisse todos os gêneros. Sob essa orientação, Álvarez de Azevedo concebe um romance dividido em contos, estes enquadrados numa moldura de prólogo e epílogo, que, respectivamente, iniciam e fecham a história. Além disso, Noite na taverna compreende a cena que é vista da janela pelos personagens da peça Macário (18...), em sua cena final. Ou seja, romance, contos e peça formam um conjunto coeso, bem coerente com a estética romântica. Quanto ao assunto, morte, violência, sonho, situações macabras, sexo... Muito diverso, bem se vê, de A moreninha (1844), Helena (1876) ou Iracema (1865).
Foram, em graus diferentes, essas duas obras de Álvares Azevedo que David Khalil adaptou com rara felicidade para os quadrinhos. Na verdade, é uma adaptação livre. A estrutura foi mantida, mas os personagens e o entrecho dos contos sofreram substanciais alterações. Digamos que é uma nova noite na taverna. O local de encontro dos amigos que vão, um a um, contar suas histórias é agora a histórica boate L’enfer, em Paris. Muito embora estivesse no período da Belle Époque, o estabelecimento tinha uma ligação visceral com o Romantismo, ao representar em suas dependências, com humor e ironia, o tão temido inferno. Saem os rapazes de origem alemã ou inglesa, e entram alguns pintores célebres: Van Gogh, Gaugin, Klimt, Lautrec, Goya. Suas histórias, como as originais, coloca-os metidos com mulheres misteriosas, em aventuras pouco líricas, plenas de violência e sangue. Khalil, no entanto, recheia-as de pilhéria, incorporando, inclusive, às falas, muito da nossa linguagem cotidiana, o que, apesar do paradoxo, cria um envolvente tom de galhofa.
Quanto aos desenhos, são ágeis, bem ritmados e em cores fortes e quentes, como pedem as histórias, saídas de mentes em combustão alcoólica e motivadas pelo entorno, a atmosfera infernal de L’enfer.
Se você já conhece a obra original de Álvares Azevedo, vale a pena vê-la transposta para esse meio tão ao gosto de nossa época: os quadrinhos; se não a conhece, aproveite para descortiná-la, de preferência nas duas versões, pois ambas, cada uma a seu modo, têm algo a nos dizer e acrescentar.
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